O estado da Nação é mau e a Nação já não é um Estado em mau estado. É apenas um local muito mal frequentado. Se dúvidas existirem basta ver como uma das mais preponderantes servas (para todos os serviços) do Reino, Norberta, mostra à sociedade angolana e ao Mundo que o MPLA apenas pensa com a cabeça (do dedo) que vai puxar o gatilho da guerra.
Por Orlando Castro
No dia 21 de Dezembro de 2017, a Secretária para a Informação e Propaganda do Bureau Político do MPLA rejeitou a existência de divisões no partido, no poder em Angola, que “cada vez mais se democratiza”, com o “sentido da crítica e autocrítica”.
Uns de forma mais efusiva, outros baixinho, todos se riram. E não é para menos. Quando todos pensávamos que o MPLA era o paradigma da democracia, eis que a sua estrutura de propaganda nos vem dizer que, afinal, ele “cada vez mais se democratiza”, com o “sentido da crítica e autocrítica”.
“Eu entendo que está a confundir-se algum aspecto que se quer chamar divisionismo com a crítica. Não! Nós entendemos que a crítica deve existir, quem não concorda deve criticar e quando é necessário submeter à consideração de todos a votação é a melhor via, o melhor meio, para desempatar aquilo que efectivamente não está concordante”, disse Norberta.
Esta piada (“a crítica deve existir”, “quem não concorda deve criticar”) entrou para o anedotário nacional.
A dirigente do MPLA, que substituíra na altura Mário António, falava em conferência de imprensa realizada na sede do partido, no âmbito da sua estratégia de maior comunicação com a sociedade.
A dita maior comunicação com sociedade, para a qual se esteve nas tintas durante os últimos 45 anos, mais não foi do que uma forma de responder, taco a taco, à propaganda do Governo de João Lourenço, que por sinal apostou tudo em amesquinhar o ex-presidente, José Eduardo dos Santos.
Norberta sublinhou que o MPLA, liderado por José Eduardo dos Santos, ex-Presidente da República de Angola, “sempre foi um partido uno e indivisível do ponto de vista do formato como apresenta os seus assuntos”.
“No MPLA quando há alguma opinião divergente, as opiniões e as propostas são submetidas a um sistema democrático, que se sujeitam a uma votação e é assim na democracia, o MPLA é um partido que cada vez mais se democratiza e cada vez mais tem o sentido da crítica e autocrítica”, corroborou Norberta, esquecendo-se que os angolanos podem ser pobres (e temos 20 milhões graças ao MPLA) mas não são matumbos.
O “rapariga” disse que o partido apoia “de modo incondicional” o actual Presidente de Angola, João Lourenço, que é também presidente do MPLA, desvalorizando as informações nos últimos tempos de divisões no seio do partido.
Das duas uma. Ou o MPLA de José Eduardo dos Santos era um outro partido, ou sendo o mesmo não pode apoiar “de modo incondicional” o desempenho de João Lourenço, se acaso os seus membros ainda gozarem de todas as faculdades mentais. Serão todos masoquistas? Se calhar é isso. Ou, em alternativa, estão a preparar a cama ao actual presidente… da República.
Norberta realçou que o apoio ao Presidente da República constou da estratégia do então líder do partido, José Eduardo dos Santos, que considerava, entre outras questões, “esta matéria importante”. Traduzindo: Eduardo dos Santos deve ter afirmado qualquer coisa do tipo “quanto mais me bates mais eu gosto de ti”. Ou, pelo contrário, será mais algo do género: “vais levar poucas…”?
“E é também importante o combate à corrupção, ao nepotismo, embora em sede desta matéria tenhamos que esclarecer o seguinte: às vezes há alguma discussão mal discutida – passe o pleonasmo – que dá conta de que basta ser parente para ser nepotismo, não é assim, o elemento diferenciador chama-se qualificação”, referiu Norberta com a intelectualidade que lhe brota da saída do intestino grosso.
Em bom português, que muitas vezes não coincide com o “mplaês”, nepotismo apenas e só significa: “Favoritismo excessivo dado a parentes ou amigos por pessoa bem colocada”. Por outras palavras também se pode dizer que à mulher de César não basta ser séria…
Norberta argumentou ainda que “a qualificação do indivíduo é o elemento essencial diferenciador para dar nota que se está em presença de uma situação nepótica ou não”. Como a palavra “nepótica” não existe no léxico português, aguardemos pelo primeira edição do dicionário “mplaês”/português que o MPLA prevê lançar em breve.
José Eduardo dos Santos, que foi Presidente de Angola de 1979 a 2017, anunciou, em 2016, que pretendia deixar a vida política activa em 2018, ano em que completou 76 anos.
A secretária para a Informação e Propaganda do MPLA considerou que os processos de transição “obedecem a uma dinâmica e a um formato e têm a ver muito com aquilo que vão sendo exactamente a acção de todos”. Tradução: para o partido tanto faz o corredor de fundo como o fundo do corredor, tanto faz a estrada da Beira como a beira da estrada. Tanto faz Norberta como um mabeco.
“Todos nós estamos num processo de mudança e processos de mudança são perfeitamente normais, temos de nos habituar a estes. Nós, MPLA, sabemos que, desse ponto de vista, é uma experiência nova, nós não temos nenhum receio de a fazer, aliás é preciso dar bem nota disso, que o MPLA até agora está a ser um exemplo africano, mundial”, disse Norberta mostrando o elevado potencial da saída do seu… intestino grosso.
Norberta tem razão. O MPLA é um exemplo para as mais evoluídas democracias do mundo, começando na Coreia do Norte e terminando na Guiné Equatorial. Daí ser, citemos, “um exemplo africano, mundial”.